Acesso x carência: Série retrata mulheres e seus banheiros

Nombini tem duas privadas portáteis. Ela vive com outras 12 pessoas em Khayelitsha, na África do Sul. Quando ela se mudou para lá, em 2005, não tinha banheiro e fazia suas necessidades na mata. "Era horrível. Quando ganhamos uma privada portátil, em 2009, ficou muito melhor. Mas as privadas com descargas são um artigo de luxo se comparadas às portáteis. Meu sonho é ter uma privada com descarga."
A dura realidade contrasta com a situação de pessoas como a artista Renee. Ela se mudou de um subúrbio de Sydney, na Austrália, para levar uma vida mais tranquila em uma área verde ao norte da cidade. Renee construiu uma cabana em um terreno de dez hectares, com um banheiro ao ar livre. A artista não se preocupa com a falta de privacidade, já que não há nenhum vizinho à vista.
Sukurbanu, de 65 anos, vive na favela de Rupnagar, em Dacar, Bangladesh, desde pequena. Ela usa um banheiro suspenso, construído em uma palafita, de onde caiu recentemente. A mulher diz que fica doente com frequência e acredita que a explicação esteja no saneamento precário. Sukurbanu mora com três filhas, que enfrentam longas filas para usar o banheiro pela manhã, antes de ir para o trabalho.
Isabela, de 33 anos, mora sozinha em uma cobertura no Rio de Janeiro. Ela tem um MBA em Direito Ambiental e trabalha com artes plásticas. "Meu banheiro significa conforto para mim. Mas sei o que está por trás disso: tomar um bom banho significa desperdiçar ao menos 10 minutos de água limpa. O fato de eu ter acesso a isso é um privilégio."
Meseret, gerente de restaurante em Adis Abeba, na Etiópia, vive em uma casa de um quarto com dois filhos, duas irmãs e sua mãe. Ela ficou viúva há nove anos, quando seu marido recebeu um tiro durante turbulências após as eleições de 2005. Por segurança, em vez de usar um banheiro compartilhado, que fica longe de sua casa, Meseret prefere usar o quintal de casa.
Ima, de 47 anos, limpa banheiros em Kumasi, em Gana. Ela vive com o marido e quatro filhos - que têm entre 14 e 22 anos - em um quarto alugado. Ela é uma trabalhadora dedicada e seu salário paga a escola dos filhos. Ima não tem banheiro em casa: durante o dia, usa o local público onde trabalha. À noite, faz uso de uma sacola plástica, porque não é seguro sair de casa nessa hora.
Martine tem 27 anos. Ela mora próximo a um rio em Cayimithe, no Haiti. "Não tenho banheiro. O que tenho é um buraco no chão ao lado de casa, que agora está cheio e tornou-se muito perigoso. Só o uso à noite, quando consigo ter alguma privacidade. Durante o dia, uso um banheiro comunitário que fica a cerca de 15 minutos de distância da minha casa."
Sangita, de 35 anos, mudou-se para Nova Déli, na Índia, há dez anos. Antes, ela morava em um vilarejo onde tinha de ir ao banheiro nos campos de cultivo. Sangita diz que sentia-se envergonhada por isso. Por esta razão, ela fez questão de ter seu próprio banheiro em sua nova casa.
Eiko, de 61 anos, mora em Tóquio. "Como esta loja de departamentos é próxima da minha casa, venho aqui para fazer compras. Quando era criança, os banheiros públicos eram sujos e cheiravam mal, mas toda vez que uso o banheiro aqui eu me sinto relaxada. Podia passar horas aqui". Na loja, o banheiro é chamado de "espaço de mudança", porque é um espaço onde as pessoas podem mudar seu humor e relaxar. Os banheiros têm música ambiente e assentos aquecidos. Os frequentadores também podem carregar seus celulares, ver TV e receber uma massagem nos pés.
Eunice é a cofundadora da Academia Kasarani, em Naivasha, no Quênia. Antes, a escola só tinha dois banheiros para 250 alunos. Os banheiros também eram usados e deixados em péssimas condições pelos moradores da área. Eunice descobriu que por causa disso as crianças preferiam fazer suas necessidades ao ar livre. Ela e seu marido investiram em banheiros exclusivos para as crianças: os pequenos espaços impedem que adultos os usem, já que que eles nem sequer conseguem passar pelas portas. "Os pais matriculam seus filhos aqui por causa destes banheiros", ela diz.
Flora, de 19 anos, é uma estudante do ensino médio em Chamanculo C, em Maputo, Moçambique. Ela mora com sua mãe, a irmã e uma sobrinha e compartilha um banheiro com várias outras famílias que vivem na mesma área. "Odeio ir ao banheiro. Às vezes, os homens ficam espiando pela cerca. Não há nenhuma privacidade."
Pana, de 49 anos, vive em Buzescu, na Romênia. Assim como metade da população do país, ela mora no campo, onde não há sistema municipal de água e esgoto. Pana tem um banheiro dentro de sua casa, que só é usado por seus sobrinhos quando eles vão visitá-la. Ela usa o banheiro do lado de fora, mesmo no inverno
Nombini tem duas privadas portáteis. Ela vive com outras 12 pessoas em Khayelitsha, na África do Sul. Quando ela se mudou para lá, em 2005, não tinha banheiro e fazia suas necessidades na mata. "Era horrível. Quando ganhamos uma privada portátil, em 2009, ficou muito melhor. Mas as privadas com descargas são um artigo de luxo se comparadas às portáteis. Meu sonho é ter uma privada com descarga."
A escritora Mary vive em Nova York. "Dividindo o apartamento com mais duas pessoas, é preciso fazer uma escala para usarmos o banheiro e se revezar na limpeza. Eu morava em Pequim, na China, onde tinha que usar um banheiro público, porque não havia banheiro em meu apartamento. Era seguro e relativamente limpo, mas eu odiava colocar o casaco só para ir ao banheiro no meio da noite. Essa experiência me fez valorizar muito a privacidade e o conforto de ter um banheiro limpo em casa."
Susan, de 46 anos, é fundadora de uma escola comunitária para crianças com deficiência física e mental em Zâmbia. "Sou feliz e tenho orgulho por ensinar estas crianças, para que no futuro elas tenham uma vida melhor e não fiquem só em casa. Tive pólio aos dois anos de idade. Não é fácil ser deficiente em Lusaka (capital da Zâmbia). Ir ao banheiro é um desafio, especialmente durante a época de chuvas, quando tenho que subir no banheiro com as mãos."
Fabiola, de 69 anos, vive em Cumbaya, um vale próximo a Quito, no Equador. Dos sete aos 21 anos, ela dividiu um único banheiro com outras 20 outras pessoas que viviam em seu condomínio. Agora, Fabíola vive em um apartamento que tem cinco. Ela usa o maior de todos e se orgulha deste espaço.
Da BBC Brasil

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