Charge do Ênio

Comentários

  1. Comentário - Primeira parte

    Ênio,

    queria congratular vc pela excelente e comovente charge sobre o sofrimento do povo Haitiano! Muita boa! Sintetiza história e passa emoção como toda charge fora de série.

    Basei-me nesta sua charge para elaborar um texto, mais abaixo, a meus amigos, e que também postei no Fora de Pauta do Nassif no dia 25/01/10. No meu texto cito algumas vezes vc e sua charge e colei no e-mail, ou linkei no comentário, sem lhe pedir licença primeiro. Me desculpe, mas acho que valeu a intenção.

    Se quiser que eu mande o texto com sua charge colada e as fotos que anexei também, me passe um e-mail para isto.

    Um abraço,

    Márcio Costa
    mperycc@gmail.com


    "Nassif,

    repasso, a seguir, e-mail que enviei aos meus contatos sobre o caso Haiti e que gostaria de compartilhar com vc e seus leitores, e intitulado de: "Duzentos anos de solidão"

    Um abraço,

    Márcio Costa"


    "Amigos e Amigas,

    a maioria já deve ter lido ou ouvido falar do grande romance e obra-prima de Gabriel Garcia Marques: "Cem Anos de Solidão".

    Gabriel narra a incrível e triste história da família dos Buendia, na cidade fictícia de Macondo, desde sua fundação até sua sétima geração: "uma estirpe de solitários para a qual não será dada uma segunda oportunidade na vida sobre a terra". Este romance foi considerado um marco da literatura latino-americana, a partir de seu lançamento em 1967, e considerado exemplo único do estilo, a partir de então denominado "Realismo Fantástico".

    Mas o assunto principal aqui não é este grande livro, que recomendo aos que ainda não tiveram a oportunidade de lê-lo.

    O mesmo nos serve somente de mote para lembrar uma história real, não somente de uma família, mas de um povo inteiro e de seu país, que nos faz confundir ou não saber separar, como nada neste mundo, o que é "realidade" e o que é o "fantástico", assim como Gabriel conseguiu na sua fusão feliz destas duas situações literárias.

    Um país que já passou por momentos de glória e prosperidade, quando servia de provedor de riquezas naturais e agrícolas, à base da exploração de 500 mil escravos africanos por 5 mil brancos, pela glamourosa e rica França, e objeto também de cobiças, disputas e guerras entre a mesma, os USA e a Espanha, nos século XVII e XVIII. Era considerada a "pérola" das Antilhas.

    Mas quando, a partir de uma revolução popular de escravos, conseguiu sua independência da França em 1804, começou o boicote pesado ao mesmo, pois não interessava à França de Napoleão fazer acordos com um país de ex-escravos. Sua força e prepotência seriam questionadas, apesar dos "ideais libertários" da revolução francesa. Aos USA, Espanha e demais países da América o Haiti era uma mau exemplo, pois seus governos e economias eram movidas à mão de obra escrava, e se este país desse certo, com esta revolução "negra", o precedente perigoso estaria criado para novas revoltas e revoluções em todo continente americano.

    Então, os grandes países brancos e mercantilistas da época, partiram para a retaliação raivosa, através de um isolamento total ao Haiti, tentando sufocá-lo econômicamente, e levá-lo à miséria total e à capitulação humilhante.

    A capitulação não conseguiram, mas levá-los à miséria absoluta e desumana, isto sim foi uma vitória dos hoje "cristãos e grandes defensores das liberdades dos povos", tudo sem nenhum sentimento de culpa e remorso, como se esta catástrofe humana fosse por causas naturais e/ou por indolência dos nativos negros.

    Sabem muito bem os "civilizados" que capital e trabalho são como irmãos siameses. Um sem o outro não permitem a prosperidade e o progresso. Por mais que o trabalho de um povo seja organizado e direcionado, é necessário o capital para acelerar o processo, não deixá-lo estagnar e impulsionar o desenvolvimento. Aliás, o capital nada mais é do que o trabalho e as riquezas naturais, acumulado à custa de muitos, mas na mão de poucos.

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  2. Comentário - segunda parte

    "Tivemos outros exemplos similares, no próprio Brasil escravocrata, com o Quilombo de Palmares e de seu líder Zumbi, que tinham que ser exterminados, a qualquer custo, pelos mesmos motivos do Haiti; e também outros países, e seus líderes, que se "atreveram" a tentar humanizar o modelo exploratório vigente, nas Américas, e nas próprias Antilhas, ao propuserem um novo modelo econômico e social, e que desafiava o sistema dominante.

    Aliás, este tipo de estratégia covarde persiste ainda hoje. Até há pouco tempo, através de boicotes econômicos, golpes e e invasões militares, quando algum "perigo" se avizinhava, ou hoje mesmo, através de meios mais discretos, como a cooptação da elite corrupta e o controle da mídia, da manipulação da informação, com a tentativa assim de se desvirtuar, difamar e desmoralizar os governos, e principalmente seus líderes, mais sociais, menos predatórios, mais independentes, e defensores da maioria de seu povo, mais pobre e vulnerável.

    Eles sabem que o círculo vicioso da miséria é impossível de se quebrar naturalmente, sem intervenção externa, tanto financeira, como estrutural, pois nesta situação as pessoas se preocupam, única e exclusivamente, com a sobrevivência diária, não tendo as mínimas condições materiais e psicológicas, e muito menos tempo, para se organizarem e progredirem.

    Assim também funciona nos vários "Haitis", dentro do nosso Brasil, em que é necessário quebrar este círculo perverso. Isto começou a ser feito há poucos anos, com bons e rápidos resultados, e esperamos que assim continue cada vez mais forte e abrangente. É a única maneira de acabarmos com nossos vergonhosos "Haitis": nas favelas, nas periferias, nas palafitas, nos sertões, e partirmos rápidamente para as próximas etapas de um progresso mais humanista, com um desenvolvimento econômico e social maior, e para todos.

    Embora uns poucos privilegiados ainda achem que isto é "esmola", ou outras mesquinharias intelectuais do tipo. Duvidamos que se a grande maioria destes mesmos, na sua infância, tivessem como prioridade, máxima e única, lutar por um pedaço de pão todo dia, estariam hoje onde estão, do alto de suas "vitórias e riquezas acumuladas", propagando regras elitistas, preconceitos, egoísmos e ódios contra os que tentam fazer alguma coisa para quebrar este círculo vicioso e perverso da miséria.

    Lembremos que este mesmos propagandistas da intolerância, são os que geralmente se dizem seguidores da filosofia cristã, vão às missas todos os domingos, e na época de Natal, fazem doações, ou mesmo dão esmolas, se emocionam com o sofrimento das crianças pobres, talvez para assim sentirem que lavaram suas consciências pesadas uma vez por ano, podendo depois partir novamente, e "livre de seus pecados enrustidos", para mais um ano de combate rancoroso contra os mais fracos na escala social. Isto na maior "cara de pau", e na maior incoerência filosófica e indiferença solidária, pois na verdade são cristãos, ou não?

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  3. Comentário - tercera e última parte.

    "É como diria Gilberto Gil, em um trecho de sua grande composição Haiti:

    "E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
    E quando você for dar uma volta no Caribe
    E quando for trepar sem camisinha
    E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
    Pense no Haiti, reze pelo Haiti
    O Haiti é aqui
    O Haiti não é aqui."

    Na verdade, enquanto a família Buendia foi submetida a cem anos de solidão emocional, e a qual não foi dada uma segunda oportunidade, como tão bem descreve Garcia Marques, o povo do Haiti foi submetido à duzentos anos de solidão, emocional e material, retirado à força de sua mãe África, e condenado à miséria eterna, pela sede da liberdade e a audácia da independência negra. E nos parece, que ao Haiti uma nova oportunidade não será dada, não somente por sete gerações, como os Buendia, mas pela eternidade.

    Vejam, neste link abaixo, neste vídeo emocionante, a carência emocional do sofrido povo haitiano, submetido a duzentos anos de esquecimento e desprezo, e que teve neste dia, de alegria contagiante, uma vã esperança que o mundo não os tinha completamente esquecido, e que faziam parte ainda da raça humana:

    http://www.youtube.com/watch?v=sWHVXkIQnUg&feature=fvsr

    O que nos espanta, no caso do Haiti, não é a ação humana sobre a desgraça deste povo, pois todos sabemos que o homem é o maior predador do próprio homem, e que o egoísmo e a ganância ainda prevalecem sobre a solidariedade e a cooperação.

    O que nos surpreende é que nos parece que a ação da natureza, ou mesmo a divina, como os mais crentes preferirem, parecem conspirar, em conjunto com a humana, para castigar duramente e eternamente este povo tão sofrido e humilhado.

    Na magnífica charge do Enio, link mais abaixo, o povo hatiano crucificado na infindável infelicidade, parece gritar desesperado um dos versos do grande poeta brasileiro Castro Alves, do cada vez mais atual poema "Vozes da África":

    "Ó Deus! onde estàs que não respondes?
    Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
    Embuçado nos cèus?
    Há dois mil anos te mandei meu grito,
    Que embalde desde então corre o infinito...
    Onde estàs, Senhor Deus?... "

    - Charge do Ênio sobre o Haiti: http://pincel-photos.blogspot.com/2010/01/charge-do-enio.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+Photografia+%28Photografia%29

    As fotos e imagens trágicas do terremoto em Porto Prínicipe, que percorrrem o mundo, parecem confirmar os versos de Castro Alves e a charge do Enio, em toda sua contudência e crueldade inimagináveis, e como bem escreveu Garcia Marques: a realidade e o fantástico se confundem como nunca.

    Quisera agora, que o grito agonizante deste "Cristo negro", simbolizado nesta charge magnífica, seja desta vez ouvido, não somente para amenizar desgraças agudas e passageiras, por maiores que sejam, mas principalmente para findar com este sofrimento crônico e secular, e que envergonha a humanidade"

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